(ENEM PPL - 2014)
Fogo frio
O Poeta
A névoa que sobe
dos campos, das grotas, do fundo dos vales,
é o hálito quente da terra friorenta.
O Lavrador
Engana-se, amigo.
Aquilo é fumaça que sai da geada.
O Poeta
Fumaça, que eu saiba,
somente de chama e brasa é que sai!
O Lavrador
E, acaso, a geada não é
fogo branco caído do céu,
tostando tudinho, crestando tudinho, queimando tudinho,
sem pena, sem dó?
FORNARI, E. Trem da serra. Porto Alegre: Acadêmica, 1987.
Neste diálogo poético, encena-se um embate de ideias entre o Poeta e o Lavrador, em que
a vitória simbólica é dada ao discurso do lavrador e tem como efeito a renovação de uma linguagem poética cristalizada.
as duas visões têm a mesma importância e são equivalentes como experiência de vida e a capacidade de expressão.
o autor despreza a sabedoria popular e traça uma caricatura do discurso do lavrador, simplório e repetitivo.
as imagens contraditórias de frio e fogo referidas à geada compõem um paradoxo que o poema não é capaz de organizar
o discurso do lavrador faz uma personificação da natureza para explicar o fenômeno climático observado pelos personagens.